quarta-feira, 18 de maio de 2016

Depressão na infância e na adolescência




O estudo dos transtornos depressivos na infância e na adolescência já definiu que sua presença é comum e grave o suficiente para merecer a atenção de clínicos e pesquisadores. Ainda mais se considerarmos a possibilidade sugerida por modernos estudos epidemiológicos do aumento de sua prevalência e de seu início cada vez mais precoce.

As manifestações clínicas da depressão em crianças, adolescentes e adultos são essencialmente as mesmas, a tal ponto, que os principais sistemas de classificação de transtornos mentais utilizam os mesmos critérios diagnósticos nessas três fases da vida.

Existe, entretanto, a necessidade de se destacar a relevância das características próprias de cada fase do desenvolvimento infanto-juvenil, que por sua vez modelam as manifestações clínicas da depressão, havendo grupos sintomatológicos predominantes nas diferentes faixas etárias.

Sintomas comuns:

1. Humor deprimido ou irritável;
2. Interesse ou prazer acentuadamente diminuídos;
3. Perda ou ganho significativo de peso, ou diminuição ou aumento de apetite;
4. Insônia ou hipersonia (excesso de sono);
5. Agitação ou retardo psicomotor
6. Fadiga ou perda de energia;
7. Sentimento de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada;
8. Capacidade diminuída de pensar ou concentrar-se, ou indecisão;
9. Pensamentos de morte recorrentes, ideação suicida, tentativa ou plano suicida.

O transtorno depressivo tem apresentação heterogênea já desde a infância, requerendo cuidadosa avaliação diagnóstica dos profissionais envolvidos com crianças e adolescentes. Especialmente nestes períodos é necessário considerar a importância da utilização de várias fontes de informações (pais, professores e amigos) ao se estabelecer uma investigação clínica. 

Em adolescentes, há atualmente a compreensão de que a depressão maior é comum, debilitante e recorrente, envolvendo um alto grau de morbidade e mortalidade, especialmente através do suicídio, constituindo-se em uma das principais preocupações da saúde pública. 

Chamamos a atenção para o fato de que a maioria das crianças e adolescentes deprimidos não é sequer identificada, e muito menos encaminhada a tratamento. No estudo realizado por Goodyer e Cooper na Inglaterra, nenhum dos adolescentes identificados como estando com depressão maior havia sido encaminhado, ou estava em tratamento.

A presença de depressão em um dos pais aumenta o risco de seu aparecimento em pelo menos três vezes, nos descendentes. Obviamente este não é o único fator determinante do aparecimento da depressão, mas sim a conjunção de diversos outros fatores, tais como: ambiente familiar, falta de percepção de apoio dos pais, estressores ambientais, como abuso físico e sexual e perda de um dos pais, irmão ou amigo íntimo.

Autores são unânimes em afirmar que, após a recuperação de um quadro de depressão, costuma permanecer algum grau de prejuízo psicossocial e quanto mais precoce for o aparecimento da patologia, maior tenderá a ser o prejuízo. Considera-se que crianças e adolescentes com depressão possuem um grande risco de recorrência que se estende até a idade adulta, representando uma alta vulnerabilidade para transtornos depressivos.

Finalizando, a depressão na infância e na adolescência se reveste de importância especial quando se considera a questão do comportamento suicida. Existem relatos de comportamento suicida e suicídio já em crianças pré-escolares, e a ocorrência em adolescentes está aumentando. Calcula-se que a depressão seja responsável pela maioria dos suicídios entre jovens, alcançando valores próximos a 10% nos casos de depressão maior.

Na atualidade já se conhece, de forma relativamente segura, tanto os fatores de risco como os fatores precipitantes do comportamento suicida em crianças e adolescentes, o que permite melhores estratégias de abordagem do problema. E se considerarmos ainda que a depressão, devido ao seu resultado terapêutico comumente satisfatório, é a principal causa evitável de suicídio, muito existe para ser realizado, protegendo e impedindo inúmeras possíveis vítimas de comportamento suicida derivado da doença depressiva.

Fonte: http://www.scielo.br/pdf/%0D/jped/v78n5/7805359.pdf

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