Lidando com o luto
Direta
ou indiretamente, as crianças passarão por experiências onde a separação pela
morte está presente. Mesmo que tenha sido de uma forma distante, surgirá um
momento em que ela se questionará sobre a sua própria. Me lembro quando era
criança e me dei conta da minha; buscava coragem para enfrenta-la no futuro
bastante distante que parecia estar, assim, dizia para mim mesma que dela não
tinha medo (estava bem longe, não é?). Ah! Se hoje tenho medo? Quem não tem? A
diferença é que hoje está mais perto.
Enfim,
se a criança quiser maiores informações acerca do assunto, é importante estar
disposto a conversar sinceramente com ela e responder às suas perguntas.
Acolher suas crenças e seus temores pode ser a melhor maneira de abordar o
assunto. Mostrar-se presente é uma forma importante de conferir segurança.
Honestidade é importante, porém crueldade é dispensável. Se você é ateu, não
precisa dizer ao seu filho de 4 anos que quando você morre, os vermes vão te
comer e tudo acaba em adubo. Dispensável isto, certo? A não ser que esteja
disposto a pagar anos de terapia. Diga que cada um ao longo da vida, tem
oportunidade de construir suas crenças, de acordo com as vivencias que vai
tendo e compreendendo com isso, o sentido que a vida lhe faz. Disse tudo e não
disse quase nada, porém, não mentiu, nem foi cruel. Simples assim!
Como dar a notícia
Nestas horas, não há quem não queira
proteger a criança, mas elas precisam ser informadas do ocorrido em termos
compreensíveis e adequados para sua idade, pois caso contrário, perceberão a
movimentação ao seu redor e apenas ficarão mais assustadas do que precisam.
A morte súbita é sempre a mais difícil.
Quando há tempo para preparar a criança, ela aceitará com mais facilidade, o
que não quer dizer que não haverá sofrimento.
Reações das crianças à morte
Como qualquer indivíduo, cada uma tem a
sua. Varia também de acordo com a idade, com experiências anteriores e o grau
da proximidade da perda, óbvio.
Os pais precisam estar preparados para
ver as crianças menores alternando estados
de sofrimento de uma maneira tal que pode transtorná-los e ser mesmo um choque
para os adultos entristecidos.
• Elas podem alternar as lágrimas e a
tristeza sentida em um momento com a necessidade de alimento e guloseimas em
outro - algo muito difícil de um adulto entender ou empatizar.
• Elas podem solicitar coisas de formas
que um adulto pode considerar insensíveis – “Já que a vovó morreu, posso ficar
com o seu colar azul?”; “Posso dormir no quarto do João, já que ele morreu?”
Por isso, é bom enumerar algumas
reações típicas por idade:
É óbvio que não há um modo adequado e
padrão de se sofrer, muito menos um tempo determinado nem o quanto uma pessoa
será afetada por uma morte próxima. Por isso é importante que a criança não se
sinta pressionada a demonstrar sinais convencionais de sofrimento e que lhes
seja permitido sofrer de sua maneira e no seu próprio tempo.
Crianças pequenas e Bebês
Mesmo os menores têm a noção de que
alguém que lhes é caro se foi e não mais voltará e de que a morte é permanente.
O choro é uma forma de expressão desta angústia.
Fora o sentimento próprio da criança, a
mesma poderá ser afetada pelo estado emocional de seus pais ante esta perda
também.
Talvez seja uma boa ideia manter viva
para a criança, lembranças da pessoa que se foi, até que se possa explicar
melhor e a criança consiga também se expressar com maior facilidade.
2 a 5 anos
Se os menorzinhos já têm a noção da
perda, nesta idade as crianças já sabem que a morte é permanente e que a pessoa
falecida não mais voltará.
Se a perda não é de um parente próximo,
elas podem ficar curiosas e serem afetadas pelo evento, mas, provavelmente,
conseguirão absorver tudo em suas brincadeiras e atividades diárias. Se,
tragicamente, se tratar do falecimento de alguém importante para elas, passarão
por um processo de sofrimento similar ao dos adultos.
6 a 12 anos
As crianças nessa faixa etária começam
a desenvolver uma compreensão mais madura da vida e da morte, a se
conscientizar de que um dia todos morrem, e que isso também vai ocorrer com
elas. Elas querem saber mais a respeito da real causa da morte.
A morte de alguém próximo pode
facilmente fazê-las retornar a um estado de insegurança e maior dependência.
Podem sentir-se mais apreensivas e mais parecidas com uma criança pequena, que
alterna sentimentos com muita facilidade.
Adolescentes
Os adolescentes com frequência pensam
sobre questões de vida e morte, ou sobre o “significado da vida”
A morte de um ente querido pode fazer
com que um adolescente se sinta especialmente perdido, porque pode ir contra
sua forte crença em seu próprio futuro e no de outras pessoas. Os adolescentes
podem se sentir inseguros num momento em que estão iniciando uma separação mais
significativa da família. É possível observar os seguintes comportamentos:
• reclusão
• atitude mais infantil
• a impressão de serem bem “pé-no-chão”
e imparciais, preocupados em não serem dominados pelas emoções
• raiva e protesto
Como essas tendências são parte do
desenvolvimento normal de um adolescente, pode ficar difícil para você saber
quando oferecer ajuda. Se o jovem administra bem sua vida escolar e social, sua
alimentação e horas de sono, você provavelmente pode esperar que o processo de
sofrimento pela perda ocorra na sua forma normalmente turbulenta. O apoio dos
amigos pode ser muito importante para eles. Mais do que nunca, eles necessitam
do amor que você sempre procurou lhes dar. Precisam mais ainda dos limites já
estabelecidos. Talvez eles queiram conversar com alguém de fora da família, que
não corra o risco de ficar muito incomodado ao ouvir os seus sentimentos, mas é
melhor não presumir que isto seja algo sempre desejado ou necessário.
Agora algumas dicas que pode ajudar:
• Não existe um modo fácil de acabar
com a dor, embora, é claro, gostaríamos de assim o fazer. A dor é o preço que
pagamos por termos amado alguém.
• Empregue palavras diretas, como morte
e morrer. Com as crianças mais novas, tente fazer a ligação com uma perda
conhecida, como a morte de um animal de estimação (que pode causar mais
sofrimento para as crianças do que os pais poderiam esperar).
• As crianças com menos de quatro anos
geralmente confundem o dormir com a morte. Crianças mais velhas às vezes acham
isso também. A diferença precisa ser explicada – por exemplo, “Quando você
dorme, seu corpo continua a funcionar”.
• Evite frases como “Ele foi dormir”,
ou “Ela se foi”, ou “O vovô desapareceu”. Essas frases podem confundir-se com
ocorrências do dia-a-dia e criar medo do sono, de ser abandonada ou de ficar
perdida.
• Deixe claro para as crianças mais
novas que isto significa que o corpo da pessoa que morreu não está mais
funcionando e que ela não sente nenhuma dor. O seu filho precisa de ajuda para
entender que o corpo não foi para lugar algum, apenas para o cemitério ou o
crematório. Explique isto cuidadosamente, pois as crianças precisam entender
claramente o que acontece com o corpo. Em certas culturas ou famílias, as
crianças podem ver o corpo após a morte. Isto na verdade pode ser bastante
útil.
• Ir ao funeral e ao cemitério pode ser
útil também. Muitas crianças optarão pelo comparecimento ao funeral se
entenderem que é uma ocasião especial de despedida, de lembrança da pessoa e de
comemoração da sua vida. Tente explicar com antecedência aquilo que irão ver em
termos simples. Por exemplo: “O corpo estará em uma caixa que será enterrada no
chão”, ou “o corpo é levado para o fogo e as cinzas são, depois, espalhadas na
terra”.
• Rituais religiosos e crenças
culturais podem ajudar a trazer conforto para as crianças, se você cultua esses
aspectos em sua família.
• Esteja preparado para contar a
história e responder as mesmas perguntas repetidas vezes. É importante para o
seu filho entender e ter a história clara em sua mente. E prepare-se para a
confusão que irá ocorrer de tempos em tempos.
• As crianças podem ficar ansiosas com
a expressão de seus sentimentos dolorosos por temer angustiá-lo (a) ainda mais,
principalmente se acharem que não tem mais ninguém para cuidar de você. Às
vezes o apoio de mais um adulto ajuda a dividir a carga e dar mais conforto à
criança.
• Seu próprio sofrimento pode ser
compartilhado com a criança, mas tente não sobrecarregá-la com isto. Você pode
passar a impressão de que não há espaço para o sofrimento dela. Os pais devem
evitar privar as crianças de suas próprias experiências – como por exemplo, ao
dizer “Eu sei como você se sente”. Ninguém sabe, exatamente, como o outro se
sente.
• É importante para a criança continuar
a ter oportunidades de compartilhar seus sentimentos sobre a pessoa que perdeu.
Você pode ajudar com fotos, por exemplo, ou contando histórias. Os mortos não
são esquecidos. Eles ficam em nossas mentes, algumas vezes como pano de fundo,
enquanto vivermos.
Fonte: http://www.ip.usp.br/portal/images/stories/lefam/2_Perdas_OK.pdf
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