sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Gravidez na adolescência


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Gravidez na adolescência


Atribuir um significado à gravidez na adolescência é o que pretendo com este texto.

Não se pode perder de vista que o desenvolvimento da sexualidade é um evento de extrema importância em direção à idade adulta. Muitas vezes, em busca de uma maturidade precoce, jovens vêm lançando-se a esta aventura cada vez mais cedo, sem terem a compreensão de todas as consequências que isto envolve.

Há inicialmente um deslumbramento por terem dado início à vida sexual, um marco importante para todos. Depois, como é de se esperar, vem a obrigatoriedade do enfrentamento dos efeitos físicos e psicológicos que esta escolha acarreta.

O sexo queira ou não, não é destituído, para a maioria das pessoas de envolvimento emocional. Outras consequências não de menor importância, seguem a esta escolha: dúvidas se a conduta adotada está adequada, medos, promiscuidade, exposição emocional, possibilidade de adquirir doenças sexualmente transmissíveis e a mais evidente, a gravidez na adolescência ou mesmo, a gravidez não planejada.

Sempre que este evento ocorre, há o choque pela notícia, a frustração de enfrentar que tudo o que se preconizou acerca de prevenção da gravidez tenha falhado e ela venha aparecer como um problema a ser enfrentado que depende de um suporte familiar.

É verdade que, na maioria das vezes, passado o choque, vem o conformismo, alegria e melhora no relacionamento pela chegada do bebê. Entretanto, permanece a frustração pela interrupção de projetos de vida familiar, estudos e progresso profissional desta adolescente geralmente em conflito, pois raramente tem maturidade para lidar com esta maternidade precoce e suas responsabilidades, além de muito provavelmente não estar em um relacionamento estável com o pai da criança.

A falta de estímulo e condições para dar continuidade aos estudos resultará em jovens com pouca instrução que tenderão a ter dificuldade de inserção no mercado de trabalho de forma satisfatória para poderem ter uma vida mais digna. Além disso, já carregam consigo a responsabilidade de criarem e educarem uma criança. Há dados de trabalhos que indicam uma diferença de 53% para 95% entre jovens que engravidam e que não engravidam que terminam o segundo grau.

Existem evidências do abandono escolar, por pressão da família, pelo fato da adolescente sentir vergonha devido à gravidez, e ainda, por achar que “agora não é necessário estudar”. Pode haver também rejeição da própria escola, por pressão dos colegas ou seus familiares e até de alguns professores.

Outra perspectiva que temos sobre o tema é que a despeito de tudo o que se ouve, do que se fala, do que se veicula nos meios de comunicação, a gravidez precoce continua a crescer na nossa sociedade. Neste grupo populacional vem sendo considerada, em alguns países, problema de saúde pública, uma vez que pode acarretar complicações obstétricas, com repercussões para a mãe e o recém-nascido, bem como problemas psicossociais e econômicos.

Ao enfrentarmos a questão como um problema de saúde pública, nas políticas de prevenção deve-se levar em consideração o conhecimento dos chamados fatores predisponentes ou situações precursoras da gravidez na adolescência, tais como: baixa auto-estima, dificuldade escolar, abuso de álcool e drogas, comunicação familiar escassa, conflitos familiares, pai ausente e ou rejeitador, violência física, psicológica e sexual, rejeição familiar pela atividade sexual e gravidez fora do casamento.

Têm sido ainda referidos como fatores predisponentes: separação dos pais, amigas grávidas na adolescência, problemas de saúde e mães que engravidaram na adolescência.

Por outro lado, alguns estudos sugerem que, entre as adolescentes que não engravidam, os pais têm melhor nível de educação, maior religiosidade e ambos trabalham fora de casa.

É importante lembrar também, que deve ser incluída nas estratégias de prevenção, a averiguação de atitudes frente a adolescente que engravidou, pois como vimos, depois disto, um longo e árduo caminho se desenha no horizonte desta menina.

Referência: Marta Edna Holanda Diógenes Yazlle

Professora Doutora do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto–USP e responsável pelo Setor de Anticoncepção do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Ribeirão

Leia mais em:

http://www.scielo.br/scielo.phppid=S010072032006000800001&script=sci_arttext&tlng=es
http://www.scielo.br/pdf/rlae/v14n2/v14n2a08Preto–USP

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